5 de maio de 2009

Google

Acabei de ler a pouco tempo o livro do David Vise e Mark Malseed sobre a história do Google. É um livro impressionante sobre o backstage da construção deste império. Impressionante e instigante.


Uma das coisas que mais me chamou a atenção é o poder computacional que está por trás de toda a coisa. Não é apenas uma questão de recursos humanos, com engenheiro e matemáticos de ponta. É uma questão de infra-estrutura. Eles tem hoje o maior poder de processamento do mundo.

Quando me faço a pergunta sobre como poderíamos construir empresas de sucesso o livro também revela uma série de ingredientes utilizados pelos empreendedores do Google. E, no meu ponto de vista, foi exatamente esta salada de ferramentas e valores que levaram aquela empresa a ser o que é e que poderia ser utilizada na criação de empresas por aqui também.

A mais visível das forças da empresa está na sua política recrutamento e seleção. Os melhores profissionais do mercado são selecionados. Isto inclui questões técnicas e culturais. Não é suficiente ter as melhores credenciais curriculares, tem que atender ao perfil cultural da empresa. A cultura organizacional é um ponto muito forte no Google. E foi exatamente a clareza desta cultura que levou os gestores do Google a tomar as decisões certas em momentos de incerteza.

Um mercado de capitais favorável a empreendimentos inovadores sem dúvida é uma vantagem competitiva aos empreendedores americanos. Por aqui, a lei é tirar leite de pedra. Lá eles encontraram, não sem esforço, o capital necessário para implantar a infra-estrutura inicial para o negócio deslanchar e ganhar escala. E olhe que não era pouco dinheiro!

Além do poder de processamento, melhores cérebros, cultura organizacional clara e forte, Brin e Page, os fundadores, aplicaram uma série de teorias administrativas de vanguarda. Isso tudo na velocidade necessária para não dar margem à concorrência. Velocidade é um dos valores mais prezados no Google. Técnicas de gestão utilizadas no Google e identificadas claramente durante a leitura do livro são as que encontramos em "Ponto de Desequilíbrio", "A Calda Longa", "A Teoria do Oceano Azul", dentre outras.

Ok, tudo lindo e maravilhoso!! Mas a minha questão sobre o como poderíamos construir empresas de sucesso por aqui ainda continua sem uma resposta otimista. São incríveis as deficiências no ambiente institucional e cultural brasileiro para implementar ações que nos levem a um sucesso comercial minimamente descente, em termos globais.

O nosso ensino é medíocre, o que dificulta, e muito, a questão do recrutamento e seleção. São poucos as universidades de excelência no Brasil e a cultura da maioria dos brasileiros não inclui a saudável ambição de ir à procura desta excelência onde ela esteja. Não é o que se vê na Índia ou na China, por exemplo, onde exércitos de estudantes invadem as melhores universidades do mundo e depois volta trazendo capital humano de excelência e um networking de peso. Aqui este capital é tão escasso quanto o dinheiro para investimentos em empresas inovadoras.

Além da falta de capital intelectual nós sofremos pela falta de políticas mais claras de ciência de tecnologia. Elas nunca foram prioridades institucionais. Temos problemas burocráticos, de regulamentação, tributários, financeiros. A solução desses gargalos precisa entrar na pauta do dia!

É impressionante entender como duas mentes brilhantes constroem um império como o Google, mas é angustiante saber que estamos desperdiçando milhares de mentes brilhantes por falta de um ambiente institucional minimamente descente. O Brasil continua jogando fora seus cérebros, ou então mandando embora.