5 de fevereiro de 2008

Boemia Produtiva

Acabo de ler o livro "Desejo de Status", do filósofo Alain de Botton. Muito esclarecedor e intrigante. Indico para quem quiser ter um melhor controle sobre as angústias de nosso tempo. O autor primeiramente as causas do desejo de status que é comum a todos, em maior o ou menor intensidade. Isto já nos dá conhecimentos para ter uma outra postura e ponto de vista na vida. Porém, a segunda parte do livro é mais pragmática e alentadora. O autor propõe algumas posturas que podemos tomar, não para ficarmos imunes ao desejo de status, mas para diminuir a aflição que o desejo nos causa e conseqüentemente viver melhor.

Dentre as posturas propostas, a qual eu mais me identifiquei foi com a boemia. Segundo o autor, o boêmio é, na verdade, um crítico da estrutura de valores da sociedade. O porém é que este mesmo boêmio, historicamente, vem encarando a vida produtiva como algo maléfico e que torna o indivíduo alinhado com a hierarquia de valores da sociedade, que não traz felicidade e sim dependência da vontade dos outros. Assim, só teria a independência do olhar burguês e consumista da sociedade aquele que negasse as formas de ascensão material.

Nós sabemos que não é bem assim. O autor mesmo chama atenção ao fato dos extremos serem sempre perigosos, em todos os casos de postura propostos. Continuo, então a me comportar como um boêmio, me esquivando do desejo de status. Mas não abro mão da produtividade, por dois motivos: conforto material e utilidade pública.

A boemia não precisa ser sinônimo de pobreza e necessidade. Muito pelo contrário. O dito "sucesso material" ajuda a viabilizar a própria boemia como algo realmente prazeroso e que nos gere qualidade de vida, no lugar de meramente nos tornarmos dependentes da generosidade de quem negamos. Um bom vinho, um bom filme, um bom café, um bom charuto, uma boa comida, um bela viagem, um confortável lar, tudo isso custa dinheiro. Além disso, é exatamente este "sucesso" que nos dá combustível para sermos independentes dos valores mais superficiais e ilógicos da sociedade de consumo, por mais paradoxal que isso pareça. Ao contrário de sociedades passadas, hoje o dinheiro nos proporciona utilidades sem a necessidade da aprovação dos outros. Isto é independência. O problema, na verdade, é se deixar seduzir por estes valores burgueses. É fácil e tentador, até prazeroso a curto prazo, mas cruel a longo prazo.

Mas olhando apenas esse ponto, em nada seria condenável a vida de um playboy que nunca trabalhou e só vive na boemia. Este tipo de indivíduo em nada contribui para a evolução, sua e da sociedade. É na produtividade e geração de riquezas que a sociedade prospera. Mas cuidado, o fim não justifica os meios. A ética, a moral, a responsabilidade social e ambiental são fundamentais para que esta conta feche.

Foi com estas, ainda básicas, análises destas questões que proponho um movimento. Movimento pela boemia produtiva. Sei que várias pessoas já pensam e vivem assim, mas acho que o pensamento poderia ser mais aprofundado. Pois bem, o movimento está fundado. E hoje tem apenas um membro. Continuará existindo, mesmo com este quadro. No futuro aprofundarei os pensamentos. Hoje é preciso apenas não esquecer dos fundamentos e não se deixar levar pelo consumismo vazio e pela boemia suicida.

Viva Vinicius de Moraes!!

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